in ,

Quem somos nós?, #devir8

Quantos de nós existem por aí? Há um conceito no budismo tibetano chamado tulku. Na tradição tibetana a explicação que se dá é que tulku é a veste de um ser iluminado, que passa a escolher quando quer reencarnar utilizando-se desta veste nirmanakaya.

À parte dos entendimentos dos entendidos, existe um outro conceito dado para o termo, tido como esotérico, no qual tulkus são as vestes que você cria como expressões de si mesmo, o que só é possível para seres altamente evoluídos, pois seriam capazes de utilizarem seus siddhis com o poder de kriyashakti para tais criações. Tais vestes são pedaços da sua própria consciência em evolução e com missões distintas mas complementares à sua, que podem atuar tanto no mundo humano quanto em outros planos (sejam celestes ou infernais – no sentido dos submundos existentes ligados à Agartha/Shamballah).

O interessante é que tais seres ligados à você, mas como aspectos inferiores de sua consciência, podem ser extremamente idênticos fisicamente entre si e ao seu criador (ou não, pois não é necessariamente uma regra, a não ser que para determinada missão se faça necessário este artifício). Mas, mesmo não sendo univitelinos, dá pra dizer tranquilamente que são irmãos fraternos. Mais interessante ainda, é que se diz que entre os tulkus eles podem muitas vezes não se reconhecerem, e serem tidos como pessoas diferentes, estranhos, que se esbarram por aí.

Sinceramente, acho que estes budistas tibetanos enfeitaram tanto a possibilidade de termos pessoas muito semelhantes – o que é completamente comum biologicamente falando – só para validar sua tradição espiritual, inventando sua episteme a partir dos fluxos da doxa e da convivência. Eu mesmo tenho consciência de vários tulkus meus. Eles não tem consciência que me servem, mas sim, quando eu os vejo, identifico no mesmo instante quem são e o que estão fazendo. E olha que dizem que quanto mais você tem – até o limite de sete tulkus diretos, mais evoluído você é, hahahaha. Sou evoluído pra kct!

Por exemplo, sempre gostei de física e astrofísica. Poderia ter ido pra USP São Carlos quando passei, mas não quis me mudar naquele momento (estava apaixonado). Poderia ter ido pro Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA, mas acabei fugindo disso, tenho horror daquele comportamento militar, e desistir disso me custou muito no relacionamento com meu pai. Mas anos depois conheci um físico nos EUA, que é exatamente igual a mim (quando tinha cabelo até o meio das costas e era magro), e que utiliza da física para explorar conceitos que, na época em que queria ser físico, achava incríveis. Tudo a ver comigo. Ora, aquele cara, conhecido como Dr. Kalil Haram, é um dos meus tulkus. Ele está ali desenvolvendo a minha experiência na física, pois precisei fazer outras escolhas mais importantes na minha vida, rs. Ele sabe disso? Não! Mas eu sei, e de alguma forma, a experiência e o conhecimento dele transbordam entre nossos veículos mentais e anímicos.

Outro dia, caminhando pela Av. Paulista em São Paulo, vi uma propaganda de um banco onde eu estava lá posando como cliente ideal. Era eu em outra época da minha vida, já não tinha cabelão, estava com uma leve barba, gordo, mas era exatamente eu ali, um conhecido CEO que fazia seus investimentos naquele banco de merda.

Poderia continuar citandos vários tulkus que tenho, fazendo coisas tão diferentes, mas sempre algo que já fiz ou tinha desejo de fazer. Aquele artista marcial, o publicitário, o dançarino, o mendigo, o caminhoneiro, o artista de circo, e tantos outras pessoas que vivem quem sou, não só em outros lugares, mas em outros tempos. Todos, de tão semelhantes, poderiam ser confundidos como meus irmãos. E há quem por vezes me fala que me viu aqui ou ali, e que quase foi cumprimentar achando que fosse eu. Mal sabe que aquele era eu também, rs.

E você que está lendo aqui, já entendeu como és meu tulku, e eu um tulku seu? Como nossas tarefas se complementam, e nossos desejos esparsos não estão se dissolvendo no tempo, mas evoluindo com outras pessoas que carregam parte da nossas pessoas? Como você pode estar coroando o sonho de alguma criança ou idoso vivendo em outra parte do mundo? Para a criança um sonho futuro que se realiza no agora contigo. Para o idoso, a saudade do que não fez no passado que se presentifica com você.

No cosmos social, o espaço e o tempo não existem, ou coexistem todos simultaneamente do ponto de vista das redes, pois as pessoas são sempre contemporâneas entre si, ainda que como indivíduos possam viver em lugares e tempo tão diferentes…

Rebeldes Criativos: geração de inovadores

Os contextos dos sentidos imprevisíveis , #devir9